Poema de boa noite
Uma hora vocês irão parar de entrar por essa porta
A geladeira não se limpará sozinha
Meu telefone não irá tocar 1, 2 3... vezes ao dia.
Uma hora meu sorriso não será mais o mesmo, nem meus olhos.
Verei vocês através deles e fim.
O fim de um começo.
Cada suspiro, cada sair, parece um preparo para isso. Para a ausência.
Acho que esse é o papel dos pais, preparar os filhos para as ausências.
Minha garganta dói, coça, se espreme, não quer deixar o nó sair.
Talvez não consiga.
Metade diz que é cedo demais para cutucar essa dor que vem aos poucos
Mas que sempre está lá, presa na garganta, se soltando aos poucos,
Quando o tempo vai liberando, também aos poucos,
As dores. As gripes.
Ai garganta. Deixa vir a trovoada, deixe-se virar trovoada nesse mar de tormentos
Gigantesco de inomináveis sentir.
Sentir.
Respiro suave de quem furou a onda e agora observa o mar
A tormenta passou.
Fecho os olhos, ouço a música, inspiro.
A porta ainda vai abrir,
E antes que o telefone toque, eu ligo para ter certeza
Que meu sorriso e olhos continuam os mesmos.
Me aqueço e deito.
Boa noite
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